sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

parto sem sangue: ovo sem casa

as cenas de 30 anos atras estão em mim como em um sonho: uma realidade extrema sobre névoas de lembrança... tem cenas que aparecem na minha memória como se fossem rascunhos de um nascimento simbólico , uma segunda vez que o espirito visita o mundo ou o reconhece na amplidão daquele momento.
gostava muito de ficar em espaços vazios... me dava um um ar de possibilidades. saia dançando freneticamente ou ficava num canto escutando a amplidão...e...sim...fui uma criança melancólica! melancolia infantil parece nome de remédio para o irremediável... no fim das tardes, entre o lusco fusco e o comecinho da noite, me dava uma tristeza oca, como uma voz oleosa que não sai...só fica na iminência do canto! um nó na garganta um choro mudo uma melodia desconhecida que não tem a pretensão de ser melodia.
com o tempo adquiri o habito de caminhar à esmo pelas ruas da mesopotâmia onde cresci... ruas bem iluminadas e desertas,  ávidas a serem percorridas dividindo comigo o vento o som dos grilos o frescor sem pedir compreensão! numa cumplicidade abstrata parecida com o que acontecia nos espaços vazios!!! era a mesma coisa...a diferença era que meu vaziou espacial se multiplicaram e tomaram conta das vias de meu pobre vilarejo pobre...a angustia que eu sentia parecia que não era digna de mim... como se eu me recreminasse por estar angustiado sem um motino palpável...
hoje compreendo que esse nó na garganta era a vontade de crescer... não física mas almamente... de me tornar um ser melhor..não uma metamorfose mas uma versão revista e ampliada para servir de abrigo a uma alma doida pra sair pelos poros e se misturar ao éter...um parto sem sangue um ovo sem casca o resultado de uma foda bem dada com o anjo anunciador!!! parece que hoje alma e corpo estão se igualando e se adequando um ao outro....mas ao mesmo tempo esse momento sublime invoca aquela criança estranhamente feliz no canto vazio! aquele adolescente suplica para que as estrelas o guiem por aquelas vias rotas... a angustia é a mesma mas não me dói, me deixa esmaecido com vontade de dar carta branca às lagrimas vazias como os espaços e abundantes como o silencio das ruas de outrora...
evohé!!