segunda-feira, 16 de junho de 2014

COPA DO (MEU) MUNDO


  PRÉ SCRIPTUM : Um certo professor me pediu que escrevesse sobre a Copa do Mundo aqui, que na época estaria começando, no Brasil e refletisse um pouco sobre o impacto desse evento na cultura do nosso país. Bem, achei esse trabalho de gosto mais do que duvidoso! Me recusei intimamente em fazer, fiz cena, achei uma proposta meio "matação", mas... acabei fazendo! Me rendi ao tema da temporada e escrevi algumas linhas. O resultado é o que se segue abaixo, uma exposição ensinofundamentalesca sobre esse período curioso... Achei interessante publicá-lo aqui, mas ainda não tenho certeza se o faço pra expor minha humilde opinião ou se para publicar alguma coisa neste meu espaço que esta abandonado às moscas... Seja de que maneira for deixo bem claro aqui que não sou contra o futebol... apenas ele não me interessa! Assim como muitos dos meus gostos não afetam ninguém, ou pelo menos uma grande parcela da sociedade... Sei lá, perdeu a graça pra mim, não que um dia teve, mas houve o juiz Margarida que eu achava o máximo na minha infância (envergando o corpo para atirar ao ar algum cartão vermelho para o machismo palpável do esporte), houve a Copa de 1994(?!) com os Novos Baianos dizendo que o molho da baiana melhorou o prato do Tio San em um comercial de chinelos e houve o Raí que bem... que é da época sabe que dispensa explicações... Parece que visivelmente os meus 90 minutos passaram a muito tempo... Lá vai o texto:

Somos considerados o país do futebol, cultuamos o futebol arte, nascemos pré-dispostos a fazer um drible estonteante a marcamos nada menos do que gols de letra. Sabemos o que é uma bicicleta, uma cabeçada, quando somos jogados pra escanteio, quando damos tiro de meta, quando somos gandula, quando tomamos um frango ou quando chegamos quase dizemos que:foi na trave!... Enfim, nossa memória futebolística esta cravada em nosso inconsciente desde o primeiro minuto do primeiro tempo de nosso eterno flaflu que é a vida. Temos o time com e o sem camisa, já fomos a algum "campinho" e sabemos que jogar uma pelada não é atirar no espaço uma mulher nua. Mas como nem toda feiticeira é corcunda e nem toda brasileira é bunda, gostar de futebol não é uma verdade universal entre os brasileiros. Eu não me sento atraído pelo esporte e conheço muitos que também não o são. Mas, infelizmente estamos fadados à generalização e dizer que não gosta de futebol pode se tornar o seu suicido social em alguma ocasião especifica; parece que não saber sobre a rodada do brasileirão as vezes pode parecer uma completa alineação, um pecado, uma heresia contra os deuses da bola!
Quando soube que a Copa seria aqui no Brazil, fiquei pensando de onde sairia o dinheiro para as construções, reformas ou melhorias em nossos esparsos e decaídos espaços para o esporte, afinal, não é novidade ver esportistas chorando as pitangas e implorando patrocínio para que possam viver plenamente sua profissão. Claro que os ricos salários de uma parcela minúscula de esportistas brasileiros (mais os ligados ao futebol), mas aqui minha intensão não foi subjugá-los, apenas estou deflagrando a diferença que entre esses universos. mas houve uma comoção geral no resultado que nos definiu como anfitriões: foi plantão na TV, todos vimos ao vivo e se mexendo o choro emocionado de Lula e da comissão toda (ohhhh que fofo!).
Trabalhei em uma escola que funcionava no pátio de uma igreja desde sua fundação e demorou 12 anos para que o governo pudesse enfim mandar a verba para a construção das tão sonhadas instalações da escola. De repente, com o anuncio magico de seriamos sede,  o milagre aconteceu: dinheiro surgiu não sei de onde para a construção de estádios e repaginação de favelas e avenidas.  Bancos e empresas abracaram a causa e começou uma mimi odisseia infernal para quem como eu queria trabalhar mas havia uma obra da Copa no meio do caminho. A policia, em um piscar de olhos tomou conta das favelas! Anunciaram um dia antes na TV um pedido para que gentilmente os traficantes saíssem de seus, até então, habitat natural e fossem para outra freguesia! onde antes apareciam para metralharem traficantes ou receber a propina deles de cada dia, a partir daquele momento seriam uma presença constante, uma união para o bem maior da pobre população dos morros que a anos vinham sofrendo nas mão daqueles monstros aproveitadores, que se aproveitavam das vistas grossas do governo (que parecia ignorar a organização autônoma - e forçada, diga-se de passagem- das populações dos morros). 
O Jornal Nacional deu uma super cobertura á esse nobre feito da nossa liga da justiça, nossa unidade pacificadora, nossos cavaleiros Jedi! Rimos aliviados com as imagens de pós adolescentes que se misturavam a outros em uma fuga alucinada do morro, antes da chegada triunfal (de tanque e tudo) de nossos arautos da paz! A reportagem terminava com um plano aéreo  contornando a Igreja da Penha, no Rio de Janeiro, com um incidental Caetano entoando versos que pediam, em uma prece verdadeira, que alguém protegesse o seu baião! Bem, baião protegido, construções a todo vapor, até a novela nova das nove fazia merchand do turismo delicioso que é subir um morro que tem vez!
Ai vem os pobres do país felizes com seus empregos temporários e batendo no peito com orgulho para dizer que uma de concreto naquele estádio lindo e majestoso foi colocada por ele, sem querer levar em consideração que talvez essa seja a relação mais próxima que ele vai ter com os jogos que irão acontecer no período da copa. Afinal este espetáculo é para o mundo ver... Não para o submundo. As obras começaram a dar no saco para quem tinha horário a cumprir, todo mundo quis tirar uma casquinha ( ou deixar apenas uma casquinha) do abacaxi arquitetonico que estava sendo erguido Brazil a fora! Alguns cavaleiros Jedi pacificadores começaram a utilizar os seus sabres, que não eram de luz, na população que libertaram! Moradores de locais especificos onde construções iriam se erguer começaram a colocar a boca no trombone dizendo que estavam sendo expulsos de seus lugares sem que fossem avisados previamente! Videos de pessoas sendo humilhadas, perdendo tudo ou ameaçadas, começaram a bombar no Youtube... e o prato começou a ficar cheio para os debates efemeros das redes sociais.
Em Junho do ano passado as pessoas foram às ruas protestar contra a Copa com uma finalidade muito bem estipulada: encontrar os melhores ângulos de suas fotos com cartazes em punho para o Facebook... As pessoas começaram a achar um absurdo ver que as poltronas de determinados estádios eram carissimas, enquanto pessoas dormiam no chão em leitos improvisados de hospitais publico ( mas uma Copa não se faz com hospitais!). Já chega! Esse berço explendido esta muito pequeno para o nosso sono eterno! Vamos vestir nossa mascara emprestada do filme holiwoodiano de algumas tempporadas passadas e mostrar para o mundo, via Instagram, como somos politizados e estamos contra essa robalheira! 
Um ano depois, ninguém mais fala disso, pois o orgulho de vestir a camisa canarinho é bem maior do que os dois reais e vinte centavos de discórdia. A moda mudou: pra que protestar?! Se adiantasse alguma coisa! Já que ta que vá! Agora não vamos fazer feio, afinal o time do País do Futebol precisa de nossa energia para ir para frente! Queremos mostrar que podem me roubar mas não sem antes levar um "olé" bem grande da minha força, da minha raça! Vamos juntos, vamos! Pra frente Brazil!  Quem quer saber de educação e saúde quando Neymar está em campo? Quem quer saber de miséria quando Galvão Bueno (tal qual o grito de sereia) entoa o tão esperado gol?! Quem precisa de moradia quando meu time já tem seu tão esperado estadio?! Quem quer saber de emprego quendo posso comprar meia duzia de bandeirinhas, alguns apitos e vender para estrangeiro na frente do estadio?! Isso de protestar contra a Copa neste momento é coisa de reacionário, antipatriotra! Pessoas mau amadas que não querem saber de nada! Pessoas sem Deus no coração, insensiveis; que não tem capicidade de chorar perante a letra linda do hino que vai tocar antes do jogo que diz diz que um filho seu não foge a luta!
 Bem, além da alma colonizada, do carnaval e do Futebol Arte a memória fraca também parece nos ser um patrimônio cultural.