PRÉ SCRIPTUM : Um certo professor me pediu que escrevesse sobre a Copa do Mundo aqui, que na época estaria começando, no Brasil e refletisse um pouco sobre o impacto desse evento na cultura do nosso país. Bem, achei esse trabalho de gosto mais do que duvidoso! Me recusei intimamente em fazer, fiz cena, achei uma proposta meio "matação", mas... acabei fazendo! Me rendi ao tema da temporada e escrevi algumas linhas. O resultado é o que se segue abaixo, uma exposição ensinofundamentalesca sobre esse período curioso... Achei interessante publicá-lo aqui, mas ainda não tenho certeza se o faço pra expor minha humilde opinião ou se para publicar alguma coisa neste meu espaço que esta abandonado às moscas... Seja de que maneira for deixo bem claro aqui que não sou contra o futebol... apenas ele não me interessa! Assim como muitos dos meus gostos não afetam ninguém, ou pelo menos uma grande parcela da sociedade... Sei lá, perdeu a graça pra mim, não que um dia teve, mas houve o juiz Margarida que eu achava o máximo na minha infância (envergando o corpo para atirar ao ar algum cartão vermelho para o machismo palpável do esporte), houve a Copa de 1994(?!) com os Novos Baianos dizendo que o molho da baiana melhorou o prato do Tio San em um comercial de chinelos e houve o Raí que bem... que é da época sabe que dispensa explicações... Parece que visivelmente os meus 90 minutos passaram a muito tempo... Lá vai o texto:
Somos
considerados
o
país
do
futebol,
cultuamos
o
futebol
arte,
nascemos
pré-dispostos
a
fazer
um
drible
estonteante
a
marcamos
nada
menos
do
que
gols
de
letra.
Sabemos
o
que
é
uma
bicicleta,
uma
cabeçada,
quando
somos
jogados
pra
escanteio,
quando
damos
tiro
de
meta,
quando
somos
gandula,
quando
tomamos
um
frango
ou
quando
chegamos
quase
lá
dizemos
que:
“foi
na
trave!”...
Enfim,
nossa
memória
futebolística
esta
cravada
em
nosso
inconsciente
desde
o
primeiro
minuto
do
primeiro
tempo
de
nosso
eterno
flaflu
que
é
a
vida.
Temos o time com e o sem camisa, já fomos a algum "campinho" e sabemos que jogar uma pelada não é atirar no espaço uma mulher nua. Mas
como
nem
toda
feiticeira
é
corcunda
e
nem
toda
brasileira
é
bunda,
gostar
de
futebol
não
é
uma
verdade
universal
entre
os
brasileiros.
Eu não
me
sento
atraído
pelo
esporte
e
conheço
muitos
que também não
o
são.
Mas,
infelizmente
estamos
fadados
à
generalização e dizer que não gosta de futebol pode se tornar o seu suicido social em alguma ocasião especifica; parece que não saber sobre a rodada do brasileirão as vezes pode parecer uma completa alineação, um pecado, uma heresia contra os deuses da bola!
Quando
soube
que
a
Copa
seria
aqui
no
Brazil,
fiquei
pensando
de
onde
sairia
o
dinheiro
para
as
construções,
reformas
ou
melhorias
em
nossos
esparsos
e
decaídos
espaços
para
o
esporte,
afinal,
não
é
novidade
ver
esportistas
chorando
as
pitangas
e
implorando
patrocínio
para
que
possam
viver
plenamente
sua
profissão.
Claro
que
há
os
ricos
salários
de
uma
parcela
minúscula
de
esportistas
brasileiros
(mais
os
ligados
ao
futebol),
mas
aqui
minha
intensão
não
foi
subjugá-los,
apenas
estou
deflagrando
a
diferença
que
há
entre
esses
universos. mas houve uma comoção geral no resultado que nos definiu como anfitriões: foi plantão na TV, todos vimos ao vivo e se mexendo o choro emocionado de Lula e da comissão toda (ohhhh que fofo!).
Trabalhei
em
uma
escola
que
funcionava
no
pátio
de
uma
igreja
desde
sua
fundação
e
demorou
12
anos
para
que
o
governo
pudesse
enfim
mandar
a
verba
para
a
construção
das
tão
sonhadas
instalações
da
escola.
De
repente, com o anuncio magico de seriamos sede,
o
milagre
aconteceu:
dinheiro
surgiu
não
sei
de
onde
para
a
construção
de
estádios
e
repaginação
de
favelas
e
avenidas. Bancos e empresas abracaram a causa e começou uma mimi odisseia infernal para quem como eu queria trabalhar mas havia uma obra da Copa no meio do caminho.
A
policia,
em
um
piscar
de
olhos
tomou
conta
das
favelas! Anunciaram um dia antes na TV um pedido para que gentilmente os traficantes saíssem de seus, até então, habitat natural e fossem para outra freguesia!
onde
antes
só
apareciam
para
metralharem
traficantes
ou
receber
a
propina
deles
de
cada
dia, a partir daquele momento seriam uma presença constante, uma união para o bem maior da pobre população dos morros que a anos vinham sofrendo nas mão daqueles monstros aproveitadores, que se aproveitavam das vistas grossas do governo (que parecia ignorar a organização autônoma - e forçada, diga-se de passagem- das populações dos morros).
O Jornal Nacional deu uma super cobertura á esse nobre feito da nossa liga da justiça, nossa unidade pacificadora, nossos cavaleiros Jedi! Rimos aliviados com as imagens de pós adolescentes que se misturavam a outros em uma fuga alucinada do morro, antes da chegada triunfal (de tanque e tudo) de nossos arautos da paz! A reportagem terminava com um plano aéreo contornando a Igreja da Penha, no Rio de Janeiro, com um incidental Caetano entoando versos que pediam, em uma prece verdadeira, que alguém protegesse o seu baião! Bem, baião protegido, construções a todo vapor, até a novela nova das nove fazia merchand do turismo delicioso que é subir um morro que tem vez!
Ai
vem
os
pobres
do
país
felizes
com
seus
empregos
temporários
e
batendo
no
peito
com
orgulho
para
dizer
que
uma
pá
de
concreto
naquele
estádio
lindo
e
majestoso
foi
colocada
por
ele,
sem
querer
levar
em
consideração
que
talvez
essa
seja
a
relação
mais
próxima
que
ele
vai
ter
com
os
jogos
que
lá
irão
acontecer
no
período
da
copa.
Afinal
este
espetáculo
é
para
o
mundo
ver...
Não
para
o
submundo. As obras começaram a dar no saco para quem tinha horário a cumprir, todo mundo quis tirar uma casquinha ( ou deixar apenas uma casquinha) do abacaxi arquitetonico que estava sendo erguido Brazil a fora! Alguns cavaleiros Jedi pacificadores começaram a utilizar os seus sabres, que não eram de luz, na população que libertaram! Moradores de locais especificos onde construções iriam se erguer começaram a colocar a boca no trombone dizendo que estavam sendo expulsos de seus lugares sem que fossem avisados previamente! Videos de pessoas sendo humilhadas, perdendo tudo ou ameaçadas, começaram a bombar no Youtube... e o prato começou a ficar cheio para os debates efemeros das redes sociais.
Em
Junho
do
ano
passado
as
pessoas
foram
às
ruas
protestar
contra
a
Copa
com
uma
finalidade
muito
bem
estipulada:
encontrar
os
melhores
ângulos
de
suas
fotos
com
cartazes
em
punho
para
o
Facebook...
As pessoas começaram a achar um absurdo ver que as poltronas de determinados estádios eram carissimas, enquanto pessoas dormiam no chão em leitos improvisados de hospitais publico ( mas uma Copa não se faz com hospitais!). Já chega! Esse berço explendido esta muito pequeno para o nosso sono eterno! Vamos vestir nossa mascara emprestada do filme holiwoodiano de algumas tempporadas passadas e mostrar para o mundo, via Instagram, como somos politizados e estamos contra essa robalheira!
Um
ano
depois,
ninguém
mais
fala
disso,
pois
o
orgulho
de
vestir
a
camisa
canarinho
é
bem
maior
do
que
os
dois
reais
e
vinte
centavos
de
discórdia. A moda mudou: pra que protestar?! Se adiantasse alguma coisa! Já que ta que vá! Agora não vamos fazer feio, afinal o time do País do Futebol precisa de nossa energia para ir para frente! Queremos mostrar que podem me roubar mas não sem antes levar um "olé" bem grande da minha força, da minha raça! Vamos juntos, vamos! Pra frente Brazil!
Quem
quer
saber
de
educação
e
saúde
quando
Neymar
está
em
campo?
Quem
quer
saber
de
miséria
quando
Galvão
Bueno
(tal
qual
o
grito
de
sereia)
entoa
o
tão
esperado
gol?! Quem precisa de moradia quando meu time já tem seu tão esperado estadio?! Quem quer saber de emprego quendo posso comprar meia duzia de bandeirinhas, alguns apitos e vender para estrangeiro na frente do estadio?!
Isso
de
protestar
contra
a
Copa
neste
momento
é
coisa
de
reacionário,
antipatriotra!
Pessoas mau amadas que não querem saber de nada! Pessoas sem Deus no coração, insensiveis; que não tem capicidade de chorar perante a letra linda do hino que vai tocar antes do jogo que diz diz que um filho seu não foge a luta!
Bem,
além
da
alma
colonizada,
do
carnaval
e
do
Futebol
Arte
a
memória
fraca
também
parece
nos
ser
um
patrimônio
cultural.
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