segunda-feira, 8 de abril de 2013

MEUS BENS, MEU MAU.


Uma coisa curiosa me aconteceu nesta ultima semana: coloquei a venda alguns de meus livros e isso pra mim é muito difícil! Tenho uma relação amorosa com eles, pois afinal de contas vivi cada momento de compra, cada mês em que esperei eles chegarem na livraria para exibi-los como minhas mais novas aquisições. Gosto dessa nostalgia do livro, primo pelas edições especiais, empresto para os leitores ávidos que sempre estão prontos a retribuir a gentileza, emprestando outro titulo como refém; e até mesmos para aqueles que não retribuem nada e ainda tomam o seu livro como cativos, para assim dizer... Mas é assim mesmo... A tarefa maior do livro, sem duvida não está centrada em criar poeira em uma estante qualquer! Ou pior: em uma caixa, adormecendo, sem vida!
Vivi o ano passado todo com dor no meu coração por abandonar a grande maioria deles nas terras quentes de Maringá, sem ninguém que lhes fizessem as devidas consultas, as mais necessárias pesquisas! Ficaram por lá, separados de mim pelas circunstâncias mais "novela mexicana" que se podem imaginar, as margens da pós-modernidade. Cheguei a sonhar que um dia os recuperava e quando enfim era me dado à chance de apanhá-los, eles estavam num lugar alto demais... E como eu estava atrasado, com muito esforço consegui pegar um único titulo e de lá sai!... Freud explica! Enquanto isso, no plano da realidade, levei comigo os poucos títulos que couberam na minha mirada bagagem e que achei relevante para continuar minha saga sagarana... Todos sobre teatro! Deve ser o espanto de pensar no teatro como algo realmente redentor, um caminho sábio a trilhar pelas vias mais intensas daquela realidade solar que, se em livro, soaria como uma fabula burlesca! Mas como se trata do que existe, os ares são de amor e de todos os outros sentimentos que acompanham essa dádiva.
            Agora que a necessidade continua revirando meu lixo, pensei que um exercício de desapego não seria de todo mau, um fenki shui capitalista que, sem que eu soubesse no momento, poderia me presentear com alguma conclusão acerca de mim... Sim, continuo acreditando na força que tem a sequencia mortal da "ação-reação", mesmo ela sendo impensada inconsciente! Rapidamente me debrucei sobre os livros que ficaram e escolhi, sem muito pensar, aqueles iriam pra fita: um de exercícios da Viola Spolin, um sobre as teorias do teatro pós-dramático e outro sobre apontamentos acerca do teatro de Grotowiski... São meus companheiros de estrada, errantes pesos de papel que tanto reboliço faz, tantos olhos abrem, tanto sono dá, quantas horas preenchem... Tchau, até, fui, goodbey, aufriederzem, inté mais...
            No mesmo dia as pessoas já se manifestaram e em pouco tempo já estariam fazendo a alegria das pessoas certas! Essa magica dos livros é o barato mais interessante! Eles escolhem seus donos! De certa forma somos domesticados por eles! Como fico feliz por isso! E infeliz também, é claro! Só que essa infelicidade é mais por estar tento que me desapegar na marra do que do egoísmo de tê-los só pra mim! Mas entendo perfeitamente esse truque que os livros nos dão, fazendo com que, absurdamente, acreditemos que eles nos pertencem... Nós passaremos e eles passarinhos!
            É ai que vem a nota de esclarecimento: analisando o assunto, na rua, indo dar aula, descobri uma simbologia especial neste acontecimento: nunca mexi direito nas fichas que a Spolin fez- invento a maioria dos meus jogos teatrais e poderia ter meu próprio fichário  o teatro de Grotowiski me despertou para o modo como vejo as artes cênicas hoje e estar conectado as suas ideias é algo natural em mim, coisa explicado por aquele fenômeno, o espirito da época,  que deixa a arte flutuando no espaço- tempo para ser captada por aqueles que mais sensíveis se colocarem ( como ele mesmo que trabalhava como Artaud, sem antes saber das semelhanças dos seus trabalhos); e o teatro pós dramático, já na minha pós graduação (interrompida) vi que era a forma acadêmica, lindinha, poética, intelctualóide de falar dos processos que vejo nascer, tanto do meu lado como em mim e nas produções que gosto...
Sempre primei pelo entendimento total dos meus processos criativo, seja como ator ou como alguém tentando encontrar soluções ao manejo de cena. E essa talvez seja o ganho maior! Por olhar o processo de criação como um rizoma de conceitos que se estruturam em diferentes áreas do conhecimento; sejam elas estéticas, filosóficas, exatas, químicas, literárias, historias... E quantas mais a força de vontade de criação, buscar em seu auxilio! Dessa forma consigo assimilar com mais facilidade o quão subjetivo somos e abstratos são nossas conclusões... Nada concreto nada palpável.
             Desfiz-me de coisas que estão mais perto, mais colocados ao lado da minha razão, do que me parecia! E precisei drástica e dramaticamente me separar deles para perceber que mesmo sem nos darmos conta, as engrenagens continuam trabalhando e demarcando a hora em que a janelinha vai abrir e dela sair o cuco mais artificial e cantar que, bem ou mau, o tempo passou.

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